Participam: Adilson Amaral (@adilsonamaral), Rapha Rodrigues (@_rapha), Caio Smoralek Dias (@caiosmoralekdias) e Romullo Baratto (autor@ArchDaily)
Aproveitando as comemorações pelos 100 anos de sua fundação, o Arquicast #72 fala sobre a Escola Bauhaus e a influência que teve na formação de uma geração de arquitetos, além da influência na própria estruturação do ensino de arquitetura e urbanismo nos diversos cursos espalhados por diferentes continentes. Convidamos o arquiteto Caio Dias, do Portal Projetar, e o arquiteto e editor do Archdaily Rômullo Barato para este bate-papo que, de maneira informal e informativa, percorreu um pouco da história da escola, de seus fundadores e de todo o contexto que sempre influenciou os diferentes momentos vividos pela instituição.
Inicialmente sediada em Weimar e conhecida por priorizar a relação entre teoria e prática na formação profissional, a ideia da Escola nasce dos movimentos vanguardistas da virada do século XIX para o XX, especialmente o movimento Arts&Crafts na Inglaterra e o DeutscherWerkbund na Alemanha, ambos envolvidos em compreender e explorar a relação entre a nascente industrialização e os modos de produção social e urbana que impactaram o mercado de trabalho e a vida em sociedade. Será dentro do contexto sindicalizado dos trabalhadores artesãos e dos arquitetos que se destacará a figura de Walter Gropius, primeiro diretor e fundador da escola, para a qual empresta toda a sua ideologia sobre o que é arquitetura e sobre a importância utilitária do fazer artístico pertinente à disciplina de design nas suas diferentes manifestações.
Apesar de reconhecerem ao menos três diferentes etapas que marcam o percurso histórico da escola a partir de sua fundação, nossos convidados destacam a premissa de ruptura e inovação que permeou todas elas, na qual o pensamento social esteve presente na busca por uma ampliação do alcance do bom design para o cotidiano das pessoas, na valorização do saber-fazer tradicional dos mestres artesãos e na reflexão sobre o melhor emprego da tecnologia disponível, em diferentes escalas. Tal quebra de paradigma no ensino resultou num corpo docente bastante heterodoxo, com professores como JohhanesItten e sua visão individualizada do processo de ensino e aprendizagem; e também se encontra refletido na estrutura curricular e no próprio espaço físico da escola, como foi possível perceber com a construção da segunda sede, em Dessau.
O projeto do edifício de Dessau, de autoria de Walter Gropius, reflete a ideologia da escola e seu compromisso com o geniu loci de seu tempo, explicitado nos materiais e processos construtivos que caracterizam a obra. Toda a lógica de implantação, a escolha do terreno e o programa, que incluía a residência de professores e alunos, reforçam a visão de seus fundadores que muitas vezes foi de encontro aos costumes da população e até mesmo às políticas dominantes, trazendo conflitos ideológicos para o interior da escola e interferindo em sua proferida autonomia, como comentam os convidados. O período entre guerras e a ascensão do partido nazista na Alemanha são exemplos de como o contexto influiu na estrutura original da escola, física e administrativamente.
Ouça aqui para saber mais sobre as diversas nuances de uma mesma história, além de curiosidades que certamente irão enriquecer o legado de uma das mais importantes matrizes de ensino de arquitetura e urbanismo, sendo referência ainda nos dias atuais, a ver pelas centenas de celebrações mundo afora dedicadas ao tema.
Link para matéria no ArchDaily
Comentados no episódio:
- Podcast 99% invisible | episódio Froebel’s Gifts
- Livro:”Bauhaus” Magdalena Droste | Amazon
- Palestra: “O lugar da mulher na arquitetura moderna” | Silvana Rubino | Youtube
- Matéria Archdaily: “As mulheres esquecidas da Bauhuas” | link
- Documentário Camarote21 | DW | link
- Matéria especial Jornal Nexo | link
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3 comentários em “Arquicast 072 – Os 100 anos da Bauhaus”
e ae, galera! boa tarde!
como numa das propostas de design da bauhaus, escreverei só em minúsculas.
estou terminando meu tcc na universidade de itaúna, em minas gerais e, coincidência ou não, demos início à semana acadêmica com o tema do centenário da bauhaus no dia em que saiu o cast. começamos com uma aula da professora celina borges, da ufmg, com o tema arquitetura e bauhaus. a aula foi muito esclarecedora e depois tivemos um momento de perguntas e respostas. eu, pra variar, pensei numa pergunta depois de estar deixando o grande teatro da universidade. então, surgiu o cast de vocês sobre o assunto: ora pois (com sotaque de portugal), por que não perguntar pra vocês?
ei-a, então: a celina pontuou que a bauhaus “deu um passo pra trás”, ou seja, trouxe de volta ao debate e à escola de arquitetura, o artesanato e outros temas do passado para que, depois, um passo consistente fosse dado à frente, num rumo diferente.
a minha pergunta é: analisando o cenário contemporâneo da arquitetura, na ótica de vocês, que passo precisaríamos dar pra trás, ou que já estejamos dando, para que possamos dar mais um passo à frente e tornar a arquitetura ferramenta mais eficaz de melhoria da estadia humana na terra?
eu não sou formal assim não, só fui pq to escrevendo pra vocês hahaha
falei demais, puta merda!
valeu, galera!
abraço!
Olá Thiago, obrigado pelo comentário no post. Essa resposta aqui é do Rapha:
Acho que o principal passo a ser dado na arquitetura nacionalmente é ampliar o debate sobre os processos que estruturam a desigualdade em nosso país. Ainda damos visibilidade somente às arquiteturas de um universo econômico muito restrito. Nós arquitetos estamos de braços cruzados nessa jornada. Algumas experiências em ATHIS (assistência técnica em habitação de interesse social – ver cast 031 e cast 051) estão em curso, mas com pouca visibilidade no meio e também para o grande público. Sem dúvida para termos uma melhor estadia na Terra, em especial no Brasil, precisamos lutar para que tenhamos os pobres mais ricos, e não os ricos mais ricos. Ai sim podemos entender porque Bjarke Ingels existe.
Sobre o papel das mulheres na Bauhaus, a professora Ana Mae Barbosa, uma figura importante da Arte Educação no Brasil, acaba de organizar um livro intitulado “Mulheres não devem ficar em silêncio”, que apresenta entre seus artigos uma parte significativa dedicada à mulheres na Bauhaus. Uma dessas mulheres, que foi esposa do Marcel Breuer (me esqueço seu nome nesse momento), veio para o Brasil em 1936, deu aulas na USP até o ano de 1974 e nunca teve relação com a arquitetura ou as artes ou qualquer outra área afim, Ela desenvolveu pesquisa e modelos tridimensionais ligados ao curso de Biologia. Vale à pena conferir!
Adoro o programa de vocês! Grande abraço!