Nas palavras de Eduardo Costa e Sonia Milani, este arquiteto “se consolidou como fotógrafo de arquitetura e é, hoje, sem dúvida, um dos poucos que conseguem traduzir em imagens as palavras, desenhos e conceitos de arquitetos, em especial daqueles com quem comunga ideias”. O Arquicast desta semana, mais um da série de entrevistas, traz toda a experiência do arquiteto e fotógrafo Nelson Kon, num bate-papo de rara honestidade e acesso às vivências pessoais deste grande artista brasileiro. Arquiteto e também dedicado à fotografia, além de admirador do trabalho de Nelson, Manuel Sá nos acompanha na conversa e nos ajuda a compreender o que faz de Nelson Kon uma referência para diferentes gerações de arquitetos e fotógrafos em todo o mundo.
Formado na FAU USP em 1983, trouxe a discussão sobre a fotografia como linguagem já nos tempos de estudante. Profissional consagrado, suas fotos ajudam na construção da imagem de diversas revistas, sites especializados e perfis de grandes arquitetos, que confiam no seu apuro técnico e sensibilidade. Inclusive, livros emblemáticos da bibliografia de qualquer arquiteto brasileiro trazem nas capas das primeiras edições o olhar atencioso de Nelson, como, por exemplo, “Lições de Arquitetura”, de Herman Hertzberger e “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, de Robert Venturi.
O ingresso na faculdade de arquitetura foi evento que aconteceu quase naturalmente para Nelson, pela influência da prática profissional de seu pai. O fotógrafo nos conta que não nutria um afeto especial pela arquitetura, sendo esse afeto construído ao longo do curso e dentro do laboratório de fotografia. O processo de revelar as fotos, ainda no modo analógico, com uma temporalidade própria, foi, em grande parte, responsável pelo seu encantamento com a fotografia e pelo grande tempo despendido na sala escura de revelação, superando em muito o tempo que como aluno dedicava às pranchetas das disciplinas de ateliê. Antes de se formar, Nelson já havia definido que iria trabalhar como fotógrafo de arquitetura.
Com uma visão crítica e consciente do papel da imagem na construção de narrativas dominantes em nosso campo, Nelson comenta sobre a evolução do ato de fotografar como um ato ideológico, opinativo, na medida em que se coloca a favor de alguma linguagem, destaca voluntariamente alguns atributos específicos de uma determinada visão do espaço e da arquitetura. Foi assim na bem-sucedida relação entre a fotografia e o Movimento Moderno, e é assim até hoje. Com uma franqueza marcante, Nelson questiona a responsabilidade dos registros arquitetônicos na consagração de obras e autores, assim como seu papel no resgate de arquitetos muitas vezes esquecidos pela historiografia oficial.
Dentre os muitos assuntos conversados, o artista compartilha com a gente sua visão sobre a profissão, seu conhecimento técnico, além de experiências pessoais, como a influência de seu trabalho como fotógrafo na apreciação e reconhecimento do legado de seu pai, o arquiteto João Kon. Fala ainda sobre as dificuldades e oportunidades em ter sido pioneiro num campo de atuação profissional que hoje se encontra consolidado, e sobre a sua reconhecida resistência às redes sociais como forma de divulgação de seu trabalho. Para saber mais, acesse nosso site e se prepare para vários minutos de muita informação e entretenimento! Até a próxima!
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Dicas do Episódio:
- Filme: Visual Acoustics | THE MODERNISM OF JULIUS SHULMAN | https://juliusshulmanfilm.com/
- Livro: “Looking at Architecture” Kidder Smith | Amazon | Amazon
- Música: Mateus Aleluia | Spotify | Instagram
- Evento: Fuckup Nights | site | Youtube
- Vídeos de música: Louisiana Channel | site
- Música: Spin Doctors | Pocket Full of Kryptonite | 30 anos! | Spotify
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3 comentários em “Arquicast 129 – Entrevista: Nelson Kon”
Olá queridos do Arquicast!
Me chamo Leilane, sou de Salvador e recém formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia.Sou nova aqui no Arquicast e estou adorando ouvir vocês.
Estava agora ouvindo o episódio 124 sobre os problemas da profissão e me instigou a responder vocês sobre a questão da remuneração de estágio.
Entendo quando vocês falam sobre o fato de que o estágio é uma complementação da formação. Mas acho que caímos aqui em duas questões.
A primeira que percebo que a grande maioria dos escritórios vêem os estagiários muito mais como uma mão de obra barata do que como um indivíduo em formação, com demandas de aprendizados e também potenciais a acrescentar à empresa – o que ao meu ver é uma infeliz sequela da cultura de desvalorização da mão de obra no país.
A segunda questão é: quantos estudantes conseguem sustentar essa condição de estagiar num local onde a remuneração é muito baixa ou nula? Existem muitos estudantes de baixa renda, sobretudo em universidades públicas, que precisam conciliar trabalho e estudo e que não são contemplados por essa lógica. A gente acaba abrindo mais um buraco na formação acadêmica de muitas pessoas porque isso não é sustentável financeiramente para elas e reforça desigualdades sociais dentro da formação profissional.
Acho que precisamos melhorar bastante essas relações para que elas sejam mais vantajosas e viáveis para ambos os lados.
Agradeço desde já a atenção.
Oi Arquicast! A entrevista com o Nelson Kon foi só inspiração. O cara manda muito bem na fotografia, tem o olhar clínico do objeto arquitetônico e ainda é humilde.
Um ótimo exemplo para todos. Obrigado pela rica conversa e papo descontraído como sempre.
Ah, mandei um e-mail raiz pra vcs! Abraço a todos. : )
Olá Tiago! Obrigado pela mensagem! A propósito, não recebemos seu email…será que você acertou o destinatário?
Abração!