Acho que, desde quando fazia faculdade de arquitetura e urbanismo, sempre tive a impressão de que o poder público era o único responsável pelo espaço da cidade. Acho que a maioria massiva das pessoas também tem essa mesma concepção.
Mas – para melhor ou pior – essa perspectiva mudou. Vivemos num mundo (não é exclusividade do Brasil) em que cada vez menos o Estado se mobiliza para mudar a cidade em que vivemos. O principal motivo está na economia mundial, onde os governos passaram a se juntar com empresas de considerável capital para a construção e remodelação da cidade. Os governos não têm mais tanto dinheiro como antes e não conseguem arcar com tantas despesas acumuladas.
Dividir essa “parte do bolo” deixou algumas coisas complicadas, principalmente no que diz respeito ao que nós urbanistas chamamos de “direito à cidade”. Via de regra, todo cidadão tem direito à moradia, aos espaços públicos, a usufruir do que a cidade oferece. Mas sabemos que isso não acontece de forma plena pois usufruir da cidade envolve dinheiro: pagar para se locomover em um ônibus, pagar para entrar em um museu, pagar para ir ao cinema, pagar para comer, pagar, pagar, pagar.
Num país brutalmente desigual como o nosso, vemos com clareza a divisão de quem pode e quem não pode: asfalto e favela convivem lado a lado, num limite tênue acentuado pela violência urbana, discriminação e exclusão social. Sabemos que muitas pessoas vivem à margem do direito citado acima.
Mas, já que é preciso ser e estar na cidade, a união, muitas vezes, acaba fazendo a força: as comunidades, associações de bairro, organizações não governamentais e simples vizinhos tem buscado seus direitos e conseguido, cada vez mais, ganhar a atenção dos políticos e do estado em suas reivindicações, que não são poucas. Cansadas da negligência estatal, essas organizações reivindicam uma cidade também para elas.
Ações como o “Ocupa Estelita”, a pedestrialização da Avenida Paulista nos fins de semana e intervenções efêmeras como os parklets – que utilizam uma vaga de carro para uso de pedestre – demonstram o engajamento das pessoas. Outras organizações, aliadas a políticos locais, procuram valer de seus direitos e reivindicar nas câmaras municipais o espaço delegado ao público.
A consequência é que, num mundo conectado e de redes sociais, as pessoas estão cada vez mais reivindicando a cidade para si. Numa reação antagônica ao isolamento, próprio da cultura digital, a busca por espaços públicos e pelo direito (que vai além) de ir e vir, ganham força com os mais informados, se espalhando rapidamente para os negligenciados. Fazer política hoje é fazer, também, o espaço urbano.
6 comentários em “Cidade: seu direito, sua vontade.”
Parabéns pelo texto, Adilson!
O tema é de forte expressividade e a cada dia temos mais pressa de disseminá-lo. A cidade e a população precisam ser munidas de empoderamento, e ciência, para usá-lo adequadamente.
O mais importante para aplicação do direito da (e à) cidade, seria de fato a conscientização em massa, principalmente das minorias (maiorias) que alheias ao conhecimento de seus direitos, deixam de validar seus desejos.
O acesso ao conhecimento é contagioso! É necessário que tomemos frente, empoderando o povo, dando-os voz. E ai sim, colheremos resultados expressivos, e satisfatórios para o bem comum.
Obrigado pelas palavras Maisa! É por aí, temos que mediar um jogo injusto. Só com informação e educação mesmo!
Lindo texto meu irmão.É URGENTE nos informarmos mais e lutar pelos nossos direitos não somente cobrar dos nossos governentes mas de nós mesmos!!!!!
Bacana Aline! É por aí mesmo! Beijos e obrigado por prestigiar a gente =)
Otimo texto, inclusive voces deveriam postar com mais frequencia!!
Olá Victor! Na medida do possível a gente vai postar discussões aqui. Obrigado pelo feedback! Abraços!