A construção civil, apesar das dificuldades, vem buscando inovações para ajudar na eficiência da obra em todos os sentidos. E uma delas é o desafio da industrialização, que traz uma série de vantagens. Os novos lançamentos imobiliários residenciais tentam atender uma clientela cada vez mais exigente e trazer inovações que o mercado oferece. Mas como fazer isso num ambiente tão desafiante como a construção civil brasileira? É sobre esses e outros assuntos que vamos conversar em mais um episódio em parceria com a ASBEA de São Paulo!
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3 comentários em “Arquicast 228 – Os desafios da industrialização dos edifícios residenciais”
Oi, gente, tudo bem?
Acho importante ouvir representantes do mercado — afinal, precisamos sempre saber o que pensam aqueles que nos exploram — mas num programa como esse fez MUITA falta a presença de docentes e pesquisadores especializados no tema. Ouvir representantes do mercado nos revela aquilo que o mercado quer que a gente ouça, não necessariamente o que efetivamente constitui a raiz do problema em questão.
Não quero com isso criticar a iniciativa (reitero que é importante ter acesso a esse tipo de discurso ideológico). Mas a ausência de reflexão crítica evidencia os limites da discussão definida apenas pelas vozes do mercado. Pra começar, há um enorme acúmulo de pesquisas e reflexões na academia a respeito do que seja industrialização e das características da indústria da construção no Brasil, suas especificidades e o motivo pelos quais é problemático importar esquemas interpretativos do setor como fazem às vezes esses representantes. Pra começar, os próprios conceitos de “artesanato”, “manufatura” e “indústria” são mobilizados de forma bastante precária pelos convidados. Há toda uma tradição crítica marxista na academia que aponta para o setor brasileiro da construção nem como artesanato nem como indústria, mas como uma forma específica de manufatura que extrai uma quantidade tão absurda de mais-valia que serve de reservatório para setores mais avançados. Essa clássica formulação ferriana já foi bastante questionada em anos recentes e por outros pesquisadores, mas num programa como esse valia talvez até começar por ela e apontar o que é manufatura heterogênea e homogênea (e não necessariamente me alinho a essa tradição, mas é importante registrar que ela existe e é central em vários dos estudos sobre industrialização). Do contrário, ficamos na velha lamentação de que no Brasil ainda “se empilham blocos a 100 metros de altura” sem compreender de fato as características dos processos de exploração capitalista no canteiro de obras que se beneficiam dessa forma de extração de mais-valia absoluta.
Falo tudo isso inclusive sem sequer estudar o assunto, mas reconhecendo minha ignorância e reconhecendo que existem pesquisadores com reflexões bastante sofisticadas que estão muito à frente do que aponta essa discussão rasa do mercado.
(ah, sem falar em uma série de outras especificidades próprias do universo residencial: afinal, não adianta nada falar em industrializar se o nó da terra e da desigualdade de acesso à terra urbana continua a não ser enfrentado. Os atos falhos na fala dos agentes do mercado, inclusive, são ótimas para perceber esses problemas, como quando ele aponta surpreso o fato de que a “lentidão” de processos tradicionais contribuir para financiamentos habitacionais mais atrativos para os clientes de classe média — afinal, fosse outro o modelo de provisão habitacional, esse problema dos juros não existiria, como na produção de habitação voltada à locação social ou a outras formas de empreendimento público.)
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