Esse é o Arquicast 230, e vamos discutir uma matéria publicada na revista Dezeen, especificamente uma entrevista com o crítico de arquitetura Paul Goldberger. Nela, o escritor fala sobre como a crítica mudou de uns anos pra cá, coincidindo com a transição da mídia física para a digital. E como o próprio meio da arquitetura também mudou, com novas prioridades. O objetivo é passar por alguns pontos da entrevista e opinar a respeito. Será que concordamos com Paul Goldberger? Será que ele está errado? Vamos estabelecer a verdade definitiva com nossos monóculos e bigodes que fazem aquela curvinha aqui e agora!
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2 comentários em “Arquicast 230 – Novos tempos para a arquitetura”
oi, gente, tudo bem?
de que crítica exatamente estamos falando? o tom geral do programa foi o de que há uma distância da crítica a uma série de práticas e fenômenos contemporâneos — e isto até pode ser o caso, mas que crítica exatamente é esta no brasil?
não é como se estivéssemos nos anos 80/90 quando críticas como otília arantes e sofia telles escreviam ensaios críticos em periódicos profissionais, como as revistas Projeto e AU. Nem estamos mais nos anos 2000 e 2010 quando críticos como guilherme wisnik e fernando serapião escreviam pra Folha ou pra Piauí, atingindo um público mais amplo. A sensação é de total esvaziamento crítico em qualquer desses veículos — e nas redes sociais o esvaziamento é ainda mais intenso, pois até se pode falar muito de arquitetura, mas isso não é necessariamente atividade “crítica”. Quando muito, temos o trabalho de alguns youtubers ultra-neoliberais que vivem em uma são paulo nas alturas promovendo terraplanismo crítico e historiográfico.
finalmente, queria apontar o enorme desconforto com o ethos neoliberal geral que caracterizou esse programa. Dizer que um pobre brasileiro hoje vive melhor que um rei da europa medieval é demonstrar imensa ignorância tanto com o estado do capitalismo contemporâneo quanto com o mínimo de conhecimento historiográfico — e pra completar ainda veio essa bobagem de que não se tomava banho na idade média. Tudo isso é puro terraplanismo: terraplanismo historiográfico, antropológico e sociológico. Esse é só um dos problemas do programa: há uma série de outros mitos repetidos ao longo da conversa, como por exemplo o de que a construção de novos empreendimentos colabora com a redução do déficit habitacional por aumentar a oferta de moradias (todo mundo que estuda planejamento urbano no país aponta justamente para o contrário), entre outras coisas. Ou a ideia de que o aumento de emissão de gases poluentes esteja atrelada ao aumento da qualidade de vida e não à aceleração da exploração capitalista (e, portanto, do aumento da miséria, como aponta a boa literatura sobre o assunto).
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